A 113ª reunião do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi iniciada na manhã desta terça-feira, em Brasília (DF), e vai até o final da manhã de quinta-feira, 20. Nas primeiras sessões do encontro, os bispos refletiram sobre a crise ambiental e sobre a vivência da fé pelo povo brasileiro, e partilharam a respeito da situação do Rio Grande do Sul.
Crise ambiental
O primeiro tema da reunião do Conselho Permanente foi a análise de conjuntura social, apresentada pelo bispo de Carolina (MA) e coordenador do Grupo Padre Tierry Linardy, dom Francisco de Lima. A abordagem sobre “A nossa Casa comum é a nossa causa comum”, analisou as causas e efeitos da crise ambiental global.
Foram consideradas na apresentação as limitações e negligências humanas em relação ao meio ambiente. O texto também é dedicado a observar os impactos do desenvolvimento nos biomas brasileiros.
Foi lembrada a enchente no Rio Grande do Sul, considerada a maior catástrofe climática de uma região metropolitana no hemisfério Sul.
Ao final da apresentação, dom Francisco destacou ser essencial às pessoas compreender a relação da biodiversidade com o equilíbrio ambiental, recordando o convite do Papa Francisco a uma conversão ecológica.
“A crise ambiental global e suas manifestações no Brasil exigem a adoção de práticas ecológicas fundamentais para atingir a estabilidade climática e a biodiversidade”.
A ecologia integral desafia, segundo o bispo, ampliar, como Igreja, o espaço de diálogo com cientistas e universidades, “para sermos promotores de diálogo mais articulado na sociedade”.
Crise climática é experiência
No Rio Grande do Sul, “a crise climática não é mais uma teoria, para nós é uma experiência”, afirmou o arcebispo de Santa Maria (RS) e presidente do Regional Sul 3 da CNBB (CNBB Sul 3). Com mais de 2,3 milhões de pessoas afetadas, sendo 176 mortos, em 478 municípios, o estado sofre as consequências das chuvas e enchentes que atingem a região desde o final de abril.
Junto com dom Leomar Brustolin, o arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da CNBB, dom Jaime Spengler, também partilhou sobre a experiência das últimas semanas. Os bispos falaram sobre a tragédia, salientaram os fatores relacionados à geografia do estado e à falta de conclusão e manutenção de sistemas de contenção ou escoamento da água que se acumula no lago Guaíba. Também lamentaram a ocorrência de saques e outros crimes, a cobertura da imprensa com atenção aos animais em detrimento das pessoas e a politização da tragédia. “É um pecado mortal”, disse dom Leomar sobre a tentativa de políticos lucrarem com o momento de dor.
Mas quiseram dar destaque à solidariedade. Dom Jaime agradeceu a “disposição para ajudar, seja no atendimento ou na alimentação” e disse ser necessário “agradecer à Igreja no Brasil por essa solidariedade imensa”.
Dom Leomar contou que o regional foi auxiliado na hora certa. “Recebemos de todos o amparo na hora mais difícil”. E fez uma prestação de contas da campanha em favor dos atingidos promovida pelo Regional Sul 3. Segundo o arcebispo, a campanha ajudou a sensibilizar muita gente em todo o Brasil, “produziu e tem produzido muito resultado”, disse.
O maior desafio virá na sequência, para dom Leomar: “será a saúde mental”. É por esse motivo que o recurso arrecadado da Campanha “É Tempo de cuidar do Rio Grande do Sul” tem sido gerido por um conselho, que vai definir os passos para direcionamento dos recursos. Como ação urgente, os recursos são destinados à aquisição e distribuição de equipamentos de proteção individual para que as famílias consigam limpar suas casas. De imediato, há também o direcionamento para a aquisição de móveis e eletrodomésticos. Na sequência, o esforço será para o cuidado com a saúde mental.
“Temos esperança, confiamos, e agradecemos aos irmãos e irmãs de todo o Brasil que se mostraram solidários”, disse dom Leomar Brustolin.
Após a partilha dos bispos, o assessor de Comunicação da CNBB, padre Arnaldo Rodrigues, apresentou a motivação para ajudar o povo do Rio Grande do Sul com “o aparato de comunicação da Igreja no Brasil”. A Campanha É tempo de cuidar do RS, baseada no tripé: oração e solidariedade, informação e esperança, contou com estratégias de comunicação e articulação entre veículos de comunicação católicos para levar a campanha a mais pessoas por meio de um programa especial transmitido ao vivo por rádios e TVs de inspiração católica.
Modo de ser católico
O último tema abordado na manhã desta terça-feira foi a análise de conjuntura eclesial, que tratou do descompasso entre o modo de ser católico atual e a realidade da sociedade brasileira. O bispo de Petrópolis (RJ) e diretor do Instituto Nacional de Pastoral Padre Alberto Antoniazzi (INAPAZ), dom Joel Portella Amado, aprofundou a questão da secularização; das novas territorialidades na vivência da fé católica; os diferentes perfis de pastoral presentes na atualidade, com seus valores e limites.