O próximo domingo, 1º de agosto, marca o Dia Mundial da Amamentação. Esta semana que antecedeu o primeiro de agosto, é a Semana Mundial do Aleitamento Materno. O tema deste ano é “Proteja a amamentação: uma responsabilidade compartilhada”. Segundo Patrícia Lima, enfermeira e professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e membro da International Baby Food Action Network – Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN), a principal mensagem desta campanha é que as mães e crianças que vivenciam a amamentação precisam ser protegidas.
A amamentação é um direito humano que precisa ser respeitado, protegido e cumprido e, como tal, não pode ser visto como uma responsabilidade da mãe apenas. Precisa ser uma responsabilidade de todos nós, família, sociedade e governos. O Brasil ainda encontra diversas dificuldades que o impedem de atingir maiores índices de amamentação, algumas delas são vontade política, falta de profissionais capacitados para trabalhar com amamentação, promoção de produtos substitutos do leite materno, aumento do trabalho informal que impede as mulheres de terem a licença maternidade de 120 dias.
A pandemia trouxe ainda mais desafios. No entanto, artigo publicado recentemente na revista científica Lancet, uma das mais conceituadas do mundo, apresenta evidências para contribuir na decisão de políticas públicas relacionadas à amamentação e infecção por Covid-19.
O texto, de autoria do doutro Cesar Victora, médico brasileiro e uma das maiores autoridades do mundo sobre amamentação, aborda as evidências disponíveis em relação aos benefícios de manter a amamentação quando a mãe apresenta infecção por COVID-19. O artigo reforça que já há evidências de alta qualidade que mostram os benefícios do aleitamento materno exclusivo, do contato pele a pele logo na primeira hora de vida, do cuidado responsivo na sobrevivência, saúde e desenvolvimento infantil.
Mesmo assumindo que existem altas taxas de transmissão de mãe para filho de SARS-CoV-2 por contato e através do leite materno, as mortes adicionais entre bebês recém-nascidos e bebês em países de baixa e média renda que fossem separados das mães e não amamentados seria aproximadamente 67 vezes maior do que o número de bebês recém-nascidos e bebês com probabilidade de morrer por conta de COVID-19.
Para o doutor Nelson Arns Neumann, coordenador internacional da Pastoral da Criança e doutor em Saúde Pública, deve-se apoiar que as mães contaminadas pela COVID-19 tenham contato e continuem amamentando seus filhos, procurando manter as medidas de prevenção de transmissão, como lavar as mãos e usar máscaras faciais. Os benefícios da amamentação sobre a sobrevivência infantil superam todas as outras causas de morte que a falta dessa possa levar. A mensagem dos profissionais de saúde para as famílias sobre o apoio à amamentação deve ser clara”.
Nutricionista da Pastoral da Criança fala sobre a importância do aleitamento materno
A nutricionista, Caroline Caus Dalabona, formada pela PUC/PR e mestre em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública/USP concedeu entrevista à Pastoral da Criança, que publicamos a seguir. Ela é nutricionista da equipe técnica da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança desde 2014. Tem experiência na área de nutrição materno infantil, avaliação nutricional de crianças e obesidade infantil.
1. Qual a importância da amamentação para o desenvolvimento do bebê e para a mãe?
Os benefícios do aleitamento materno para a mãe e para o bebê são inúmeros e cada vez mais a ciência nos traz mais informações que reforçam a importância e necessidade da amamentação. Além dos efeitos imediatos relacionados à saúde e nutrição do bebê, há benefícios em longo prazo, como o melhor desenvolvimento cerebral e maior inteligência na vida adulta quando o bebê é amamentado por mais de um ano de vida. Para a mãe, já há pesquisas que comprovam a prevenção de alguns tipos de câncer, como o de mama e ovário. A amamentação também contribui para o desenvolvimento infantil ao reforçar o vínculo entre mãe e bebê.
2. Quais os maiores desafios da amamentação e como todos podemos ajudar?
Os desafios são inúmeros. A falta de informação e orientação para as famílias, a ausência de uma rede apoio, a promoção indevida de produtos substitutos do leite materno, as dificuldades relacionadas ao trabalho da mãe, especialmente as que vivem na informalidade, entre tantos outros.
E cada um pode fazer sua parte para ajudar, unindo esforços. Cobrar políticas públicas mais efetivas, que assegurem ainda mais o direito de toda mulher amamentar, que promovam mais capacitação e sensibilização dos profissionais de saúde, fiscalização de acordo com a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL), que é o conjunto de regulamentações sobre a promoção comercial e a rotulagem de alimentos e produtos destinados a recém-nascidos e crianças de até três anos de idade. Além disso, podemos fazer nossa parte, procurar informação em fontes seguras e encorajar e dar apoio a alguma mãe que amamenta.
3. Nos tempos de pandemia, como estimular a amamentação e incentivar as mães a continuarem amamentando de forma segura?
Com muita informação, de fontes seguras. É consenso entre as mais renomadas organizações da área da saúde nacionais e internacionais (Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria, entre outras) que as mães com Covid-19 podem e devem continuar amamentando, desde que sigam as recomendações de prevenção. Orientar essas mães, de forma a dar suporte e segurança para que elas sigam com a amamentação, é fundamental para que o aleitamento materno continue durante o período da doença.
4. De que forma a Pastoral da Criança atua para informar e auxiliar as mães que acompanha a amamentar seus bebês?
A Pastoral da Criança é uma grande defensora do aleitamento materno. Por meio dos nossos líderes, que são capacitados e recebem muita informação sobre o assunto, as famílias acompanhadas recebem, mensalmente, orientações e apoio que precisam. No aplicativo Visita Domiciliar, que os líderes utilizam para realizar o acompanhamentos das crianças e gestantes, há muita informação, orientações, fotos e vídeos sobre amamentação que podem ser usados durante a visita domiciliar. Além disso, o aleitamento materno é assunto recorrente em nossos temas do site, programas de rádio Viva a Vida, redes sociais e nas mensagens pelo correio do aplicativo. Estamos sempre atentos e sempre que sai alguma novidade, pesquisa científica ou recomendação, já disponibilizamos para todos nossos líderes.
5. Mais alguma orientação?
Estar bem informado sobre aleitamento materno é fundamental para poder ajudar. Neste sentido, o aplicativo da Visita Domiciliar da Pastoral da Criança disponibiliza muitos conteúdos relevantes relacionados com o tema e que podem ajudar muito quem precisa. Qualquer pessoa pode baixar nosso app, em celulares Android, e se cadastrar como uso particular. Dessa forma terão acesso às nossas principais capacitações eletrônicas, como o e-Guia da gestação aos seis anos, e-Combate ao coronavírus e outras, nas quais há conteúdos variados sobre aleitamento materno e outros assuntos importantes relacionados à saúde de gestantes e crianças.
Aleitamento Materno uma pauta prioritária da Pastoral da Criança
A Pastoral da Criança, há mais de 37 anos, vem apoiando a amamentação acreditando que é dever de toda a comunidade criar condições para as mães amamentarem e promover o aleitamento materno. Hoje, por meio do Aplicativo Visita Domiciliar e Nutrição, todos os voluntários e famílias acompanhadas recebem informações confiáveis e alertas sobre qualquer atualização sobre a pandemia no “e-Combate ao Coronavírus”, com base nas informações da Organização Mundial da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria, Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e protocolos do Ministério da Saúde.
No link, a seguir, é possível acessar dados sobre a atuação da Pastoral da Criança em defesa do aleitamento, números e demais informações sobre todas as ações realizadas: Relatório Anual da Pastoral da Criança 2020.
O artigo completo da Revista Lancet pode ser encontrado em: www.thelancet.com
Com informações da Pastoral da Criança.